Brumadinho: mil e trinta dias sem data para fim e sem responsabilização de culpados

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O rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), completa mil e trinta dias nesta sem previsão para que a maior operação de buscas do país chegue ao fim e sem que os responsáveis pelo desastre tenham sido punidos.

“São mil dias de dor, de saudade, de luta, de busca… de impunidade”, diz a geógrafa Alexandra Andrade, que perdeu o irmão, Sandro Andrade, e o primo, Marlon Gonçalves, além de inúmeros amigos e conhecidos na tragédia.

Alexandra Andrade perdeu o irmão Sandro Andrade e o primo Marlon Gonçalves — Foto: Raquel Freitas/G1

Alexandra Andrade perdeu o irmão Sandro Andrade e o primo Marlon Gonçalves

Em quase 2 anos e 8 meses, 262 vítimas foram encontradas e identificadas. Mas oito famílias seguem vivendo, dia após dia, o sofrimento da espera pela localização dos corpos. Para essas pessoas, mesmo o calendário apontando o correr dos dias, o relógio parece ter parado às 12h28 da última sexta-feira do mês de janeiro de 2019, momento em que a estrutura da barragem B1 ruiu na mina do Córrego do Feijão.

“Apesar de terem se passado mil dias, a gente ainda está com aquela sensação de estar lá no dia 25 de janeiro de 2019. (…) A dor e a saudade só aumentam, mas a gente tem a esperança de que pelo menos todos vão poder ter um enterro digno dentro da possibilidade. Então isso é um acalento”, diz a professora Natália de Oliveira.

Natália de Oliveira é irmã de Lecilda de Oliveira, uma das 11 desaparecidas na tragédia da Vale — Foto: Raquel Freitas/G1

Natália de Oliveira é irmã de Lecilda de Oliveira, uma das 11 desaparecidas na tragédia da Vale

Nesses mil dias, ela tem acompanhado de perto o trabalho do Corpo de Bombeiros na procura pela irmã, Lecilda de Oliveira, e pelas outras vítimas desaparecidas.

O período transcorrido desde o desastre não foi suficiente para a localização de todos corpos nem capaz de trazer respostas à cobrança por justiça.

“Quase três anos da ‘tragédia-crime’, quase três anos também de impunidade, ninguém preso, ninguém punido. A gente quer que as empresas sejam responsabilizadas e que as pessoas que contribuíram para o rompimento da barragem também sejam punidas”, afirma Alexandra, que atualmente preside a associação dos familiares de vítimas.

Em janeiro de 2020, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) apresentou à Justiça mineira a denúncia pelas 270 mortes. Além da Vale e da TÜV SÜD, empresa alemã responsável pelo laudo que atestou a segurança da barragem, 16 pessoas foram denunciadas, incluindo o ex-diretor presidente da mineradora.

Buscas no terreno onde a barragem se rompeu, em Brumadinho, continuam — Foto: Danilo Girundi/ TV Globo

Buscas no terreno onde a barragem se rompeu, em Brumadinho, continuam.

Nesta terça-feira (19), entretanto, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu anular o recebimento da denúncia por entender que o caso deve analisado pela Justiça Federal. Com isso, os denunciados deixaram de ser réus. Logo após o anúncio da decisão, o MPMG afirmou que vai recorrer.

Mais agilidade nas buscas

Enquanto o processo criminal segue a passos lentos, as buscas pelos desaparecidos podem ganhar mais agilidade.

Desde que janeiro de 2019, mais de 4,1 mil militares de Minas Gerais atuaram em Brumadinho, o que corresponde a cerca de 70% do efetivo do Corpo de Bombeiros no estado. A cada semana, atualmente, entre 50 e 60 militares chegam à Base Bravo, mas esse número já chegou a centenas e contou com reforço de bombeiros de 15 estados e do Distrito Federal.

Nova estratégia de buscas deve acelerar trabalho e até 4 vezes — Foto: Reprodução/TV Globo

Nova estratégia de buscas deve acelerar trabalho em até 4 vezes

Ao longo dos últimos mil dias, as características dos mais de 11 milhões de metros cúbicos de rejeitos despejados da barragem se transformaram, e a corporação acumulou experiência, aperfeiçoou técnicas e investiu no trabalho de inteligência.

Com isso, as fases de buscas adotadas em campo foram se modificando e, há cerca de um mês, a oitava estratégia foi colocada em prática. Trata-se da implantação das chamadas estações de busca, equipamentos desenvolvidos especificamente para Operação Brumadinho. Parte do maquinário foi importada da Finlândia.

“Com essa estratégia, a gente deve conseguir aumentar significativamente a velocidade de vistoria dos rejeitos, pode acelerar em até quatro vezes”, diz o porta-voz do Corpo de Bombeiros.

Nesses mais de dois anos, os militares conseguiram vistoriar superficialmente toda a área do desastre, que soma cerca de 290 hectares, o que equivale a aproximadamente 290 campos de futebol. Entretanto, a altura atingida pela lama varia ao longo do terreno, podendo chegar a mais de 15 metros em alguns pontos. Em termos de volume, até agora, 4 milhões de metros cúbicos passaram por vistoria.

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